sexta-feira, dezembro 21, 2007

A Última Posse

Quero ver o dia da morte

De quem viu não fez

O chão lambido por sangue

Consumido por uma devoção torpe



Quero ver o dia da realeza

A nobreza do verde e do vermelho

A deferência pelo cansaço

Pelo fim do “homem de aço”


Quero ver o dia em que Sim

De não levantar a bandeira, mas sua criança

De não chamar pelo nome, mas de “Amigo”

De não apenas escrever mais expressivamente e apaixonadamente


Quero ver o dia de Um de Maio

Que seja honrado, não comemorado

Em que as idéias revivam, reacendam

Em que os ideais os transcendam


Quero ver o dia do antepassado

Em que a terra seja de todos

Em que a luta esteja em todos

E a Liberdade sirva um povo


Quero ver o dia juvenil

Que eles voltem a pintar a cara

Que eles voltem a denotar a voz

Que eles berrem na moral vil


Quero ver o dia em que dêem esmolas ao pobre

Que esse se Revolte

“Por que deveriam agradecer pelas migalhas que caem da mesa do homem rico?”

Por que deverão conformismo diante dum sistema falho sob o jugo da opulência?


Quero ver o dia em que povos chorem juntos

Em que não sejam enjaulados por pensar

Que sejam honrados por falar

Que pensamentos puros sejam fecundos


Quero ver o dia em que ingratos bastardos

Não saciem desejos torpes sórdidos

Em cima de crianças acorrentadas

Que não mais percam a inocência enlevada


Quero ver o dia em que a Vossa Santidade

Dignifique seu cargo, que curve-se ante seus súditos

Que Igrejas não mais falhem

Com quem apenas fé, resta-lhes


Quero ver o dia em que não mais leiam

O Livro Sagrado, mas interpretem o mundo

Em que não pensem sobre a morte, essa naturalidade

Mas reflitam sobre a vida e suas doenças ocultadas


Quero ver o dia em que não repudiem

Versos presos na garganta,

Nas mãos de quem não os canta

E que escrevam Mil cartas de amor, cada uma como se fosse a última


Quero ver o dia da crise mundial

A Crise da Razão, não a tradicional

A Crise para o Progresso,

A Crítica contra o regresso


Que deixem os povos evoluírem natural e como o querem – e se o querem


Quero viver e respirar o dia chuvoso

Em que esses versos passem de rosto em rosto

Que transcendam as limitações infinitesimais

E Clamem nos desejos íntimos como jamais

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