Quero ver o dia da morte
De quem viu não fez
O chão lambido por sangue
Consumido por uma devoção torpe
Quero ver o dia da realeza
A nobreza do verde e do vermelho
A deferência pelo cansaço
Pelo fim do “homem de aço”
Quero ver o dia em que Sim
De não levantar a bandeira, mas sua criança
De não chamar pelo nome, mas de “Amigo”
De não apenas escrever mais expressivamente e apaixonadamente
Quero ver o dia de Um de Maio
Que seja honrado, não comemorado
Em que as idéias revivam, reacendam
Em que os ideais os transcendam
Quero ver o dia do antepassado
Em que a terra seja de todos
Em que a luta esteja em todos
E a Liberdade sirva um povo
Quero ver o dia juvenil
Que eles voltem a pintar a cara
Que eles voltem a denotar a voz
Que eles berrem na moral vil
Quero ver o dia em que dêem esmolas ao pobre
Que esse se Revolte
“Por que deveriam agradecer pelas migalhas que caem da mesa do homem rico?”
Por que deverão conformismo diante dum sistema falho sob o jugo da opulência?
Quero ver o dia em que povos chorem juntos
Em que não sejam enjaulados por pensar
Que sejam honrados por falar
Que pensamentos puros sejam fecundos
Quero ver o dia em que ingratos bastardos
Não saciem desejos torpes sórdidos
Em cima de crianças acorrentadas
Que não mais percam a inocência enlevada
Quero ver o dia em que a Vossa Santidade
Dignifique seu cargo, que curve-se ante seus súditos
Que Igrejas não mais falhem
Com quem apenas fé, resta-lhes
Quero ver o dia em que não mais leiam
O Livro Sagrado, mas interpretem o mundo
Em que não pensem sobre a morte, essa naturalidade
Mas reflitam sobre a vida e suas doenças ocultadas
Quero ver o dia em que não repudiem
Versos presos na garganta,
Nas mãos de quem não os canta
E que escrevam Mil cartas de amor, cada uma como se fosse a última
Quero ver o dia da crise mundial
A Crise da Razão, não a tradicional
A Crise para o Progresso,
A Crítica contra o regresso
Que deixem os povos evoluírem natural e como o querem – e se o querem
Quero viver e respirar o dia chuvoso
Em que esses versos passem de rosto em rosto
Que transcendam as limitações infinitesimais
E Clamem nos desejos íntimos como jamais
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