segunda-feira, outubro 30, 2006

Dia oco

Foi um dia bem chato. Intediante e monótono. Não mais que algumas músicas e alguns capítulos. Acontece porque a alma acorda com vontade de não ter vontade. Aí você fica andando de um lado pro outro procurando alguma coisa. Um cigarro aqui, um ar ali. Daqui a pouco copo de chá seguido de outro café. Não tinha nignuém por perto pra bater um papo e mesmo se tivesse não haveria muito assunto. Minha cabeça estava meio sem conexões.
A televisão também não foi a salvação por mais de meia hora. Tentar recaptular aqueles acordes que estavam tocando esses dias, mas sabe que esse violão precisa é de cordas novas. Antes até parecia que ia chover só que até as nuvens ficaram sem vontade de pingar. Sem pessoas passando na rua e sem cachorros latindo pela vizinhança.
Trocando os discos, música vai, música vem e aí soa um ou outro relâmpago. Nada que mudasse o curso das coisas. O tempo teimando em passear com os ponteiros em vez de simplesmente passar. Se eu tivesse alguma árvore no gramado poderia sentar lá pra escrever um livro. Como não tenho árvores, não escrevo livros.
Um trago talvez criasse umas conexões, se tivesse alguém pra desenvolver as idéias.
Foi um dia morto, sem salvação, sem julgamento, sem intercessão. Que perda. Quantas grandes coisas foram feitas em dias vazios como esse. É, mas nesse nada.

domingo, outubro 15, 2006

Só mais uns fluxos de pensamento



Ultimamete tenho conversado muito comigo. Já descobri várias coisas interessantes, mas ainda não cheguei na fórmula mágica pra desvendar os problemas - tem gente que acredita que não existe. Têm sempre aquelas vozes que ficam idealizando as coisas, mas do jeito que nunca acontece. O resultado são decepções. Mas daí elas voltam e dizem que dá pra reverter, que vão ter novas chances.

Assim, conforme elas vão ditando, o humor e as perspectivas vão mudando. Numa hora a vontade - não só a vontade - de esmagar o porta lápis aqui do lado, noutra um sorriso pensando que vai mesmo beber denovo daquela fonte. Daquela. Às vezes dá sim pra controlar isso. Forçar um sorriso ou colocar música que traz boas lembranças ajuda. Mas fatos concretos são uma necessidade.

Esses dias mandei elas calarem a boca. Estava convecido que eram pitonisas charlatãs que só consumiam meu tempo. Ia não planejar nada e agir só no impulso. Acabou que acabei sem ação, me encontrei confuso e hesitei. 'Droga, eu divia ter...'. É, droga. Mas agora já se foi. Elas riram da minha cara e me fizeram, denovo, perder tempo.
O melhor que eu faço é mesmo ouví-las, mas não me embriagar nas possibilidades. Prever os movimentos das peças com precisão não dá, mas pensar em como será a resposta pra cada jogada, isso sim, posso.

Pelo lado científico, me induzem a acreditar que todas as emoçoes, sentimentos e sensações são substânias produzidas no cérebro que ativam as regiões correspondentes. E tudo que você vê, ouve, cheira, bebe, come, fuma, toca, injeta, etc., faz a motor da máquina orgânica continuar funcinando com objetivo de morrer daqui a um tempo. Mas no fundo todo mundo sabe que são fantasmas, bruxos, demônios, monstros, pitonisas, padres, anjos e mais todo tipo de figuras que se ouve falar todos fundidos formando uma alma presa numa estrura cuidadosamente desenhada pra passar a impressão de quem se é. Não que realmente passe. E essa alma bsuca instintivamente saciar os desejos que surgem a toda hora.
Fazer todos eles entrarem em consenso é difícil, mas o conjunto é que faz a mente. E é esse conjunto sinuoso que torna as coisas assim excitantes.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Dia de Lua Cheia

Lá do alto vi como eram felizes, vi tudo o que eu perdera por querer ser de ninguém. A lua estava diferente dos outros dias, estava mais perto, estava mais brilhante, estava diferente. Era ela quem me dizia que tudo iria valer a pena. Sentei na grama surrada da beira da estrada e comecei a rir. Não tinha achado graça em nada, apenas senti vontade de rir, e foi o que eu fiz. Talvez o riso fosse um mecanismo de defesa, fosse algo para me dar voz, algo que me dissesse "está tudo bem". O fato é que a minha vontade era de descer lá e voltar atrás. Pedir desculpas e dizer que voltei, que queria fazer parte do grupo mais uma vez, mas o orgulho me impedia. O orgulho que não me deixa voltar é o mesmo orgulho que me fez partir. Começou a chover, bem de leve, aquele tipo de chuva que faz as pessoas refletirem, aquelas chuvas que nos fazem querer mudar. Lá embaixo a chuva molhava a camisa velha e desbotada da mulher que um dia foi minha amada. O peso da água faz com que as roupas fiquem coladas, no caso dela, os seios moldados no tecido me faziam lembrar dos vários momentos de prazer que tivemos juntos. Diferente dos olhos; esses sim me faziam lembrar do amor. Do tempo em que transpirávamos paixão, do tempo de sonhos, dos mil planos, das juras de amor eterno. Acendi um cigarro, duas ou três tragadas e a chuva o estragou. Não podia mais evitar. Desci até as barracas e segurei o seu braço. Ela virou e me encarou por alguns instantes. Não sabia o que dizer, nem eu e nem ela. Não disse nada, apenas olhei fundo em seus olhos, e ela entendeu, também não falou nada. Como se tivéssemos voltado no tempo, estávamos nós de novo aos beijos e abraços, de baixo de chuva, com o mundo ao nosso lado. Fizemos amor a noite toda, dormimos juntos e abraçados. No dia seguinte pela manhã acordei cedo, saí sem fazer barulho, não queria acordá-la, assim poderia ficar alguns minutos alí vendo minha antiga paixão dormir. Voltei para o carro, liguei o rádio. Estava tocando Rolling Stones. Essa música sempre me causava arrepios, mas na ocasião me arrancou lágrimas. Dei a partida, agora não tinha mais volta, a estrada era a minha vida, e ainda restavam muitas delas pela frente. A poeira levantou uma nuvem, dirigi alguns metros sem ver nada, mas não me importava, fui embora com a certeza de que fiz o certo, enquanto a mesma melodia me dizia, you can't always get what you want.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Procurando palavras

Três horas de omissão
Muito a ser dito
Mas nem ao menos um sussurro proferido

Música doce aos ouvidos
Tantas situações na mente
E nenhuma gota de vida na tela

As linhas brancas para o escritor
E a rocha bruta do escultor
Assim como o tempo em cada vivente

Logo as horas serão dias
Sussuros lamentos, música silêncio
Presente passado, futuro presente

Se as linhas apenas passarem a amareladas
A rocha não for delapidada
Não sei o que será do tempo

Não o perca contando os grãos da ampulheta
Muito menos empurrando-os de volta
Apenas ache as palavras certas para acabar com essa omissão