quinta-feira, setembro 07, 2006

Reflexo de metáforas

Um minuto me encontro em queda livre e já em seguida cordas presas ao meu tornozelo me seguram. Rompendo-as tenho ainda o pára-quedas na parte de trás da cabeça. Tanto vento gélido na cara e uma visão tão ampla que perder tempo com vaidade ou qualquer outra futilidade seria pecado. Grande beleza a alguns palmos da ponta do nariz e uma anciosidade incotrolável para segurá-la com todas as forças que tiver. Uma garota na minha frente transpira um calor que eu não entendo porque vem em minha direção. Mergulho centenas de léguas dentro daqueles olhos castanhos e não vejo nem a sombra da minha imagem. Jogar algumas substâncias pra dentro é a única forma que encontro de não congelar todo meu sangue e me estilhaçar em mil pedaços nas parades do poço em que ela me atirou. Desviando desse olhar diabólico vejo uma fila de estátuas, bronze, mármore, gesso e barro, são as oportunidades que disperdicei ou evitei. Melhor ou pior eu não sei, teria sido diferente. Abrir mão do maldito queijo fedorento em troca de sair da gaiola e finalmente utilizar o não muito belo, mas funcional par de asas pra ir buscar alguma coisa que nem sei direito o que é, mas que brilha, e brilha pra mim é o melhor que posso fazer. Sobra uma esperança de que com as asas não vão ser necessárias cordas, pára-quedas ou quedas livres e que o demorado vôo sobre quanta água necessário for, pode ser bom. Afinal, pelo menos tenho algumas gaivotas com tanto senso de direção quanto eu que voam ao meu lado.

12 comentários:

Marco Aurélio disse...

Cada vez melhor caro Listrado... cada vez melhor.

J. disse...

lembra-me o pequeno príncipe a voar com gaivotas...:)
gostei do texto!

Anônimo disse...

tem uma velocidade vertiginosa esse texto, mas só até a metade. depois ele entra em algumas reflexões mais profundas que desaceleram a queda. Mesmo assim um belo texto e um ótimo exercício que tentarei mais tarde.

disse...

amei esses olhos.

Zaratustra disse...

os textos estão legais. Até ia fazer algumas críticas, mas acho que vai gerar polêmica, todo mundo tá elogiando, e além do mais isso é coisa pra quem vem da terra da carne de pescoço. Vou me controlar.

Tá legal, tá legal.

Adoro ler o bacon na pedra.
A propósito bacon na pedra é um prato típico do rancho dos malditos?
E quanta gente frequenta isso aqui heim? Gloria, rita e Lady jane: grande pseudonimo.

Anônimo disse...

Sabe que as vezes ue vejo um amigo meu em seus textos.

Dani Dias disse...

Adoro textos assim! Parabéns! quanto aos personagens, meu grande problema é que eles são muitos. Não consigo dar a atenção necessária a nenhum...Ate mais

Dani Dias disse...
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Anônimo disse...

Obrigado, comentário realmente produtivo.

Anônimo disse...

"Jogar algumas substâncias pra dentro é a única forma que encontro de não congelar todo meu sangue e me estilhaçar em mil pedaços nas parades do poço em que ela me atirou. Desviando desse olhar diabólico vejo uma fila de estátuas, bronze, mármore, gesso e barro, são as oportunidades que disperdicei ou evitei."

Bom saber que não sou só eu que me sinto assim algumas vezes.

Anônimo disse...

Na real a condição humana masculina natural é a desconfiança.
Não teve ironia, eu disse que foi produtiva porque rolou uma análise básica do texto, e eu curto quando pelo menos, gramaticalmente, analisam o texto e inserem ele em uma regra, em um contexto como a sinestesia ou a aliteração.

Então era isso.
comentar e justificar é o fim

Anônimo disse...

E digo mais, inquietante antítese.