quarta-feira, setembro 27, 2006

Crianças

Saiu a garotinha para mais um dia de aula. Deu um beijo em sua mãe pegou seu material e subiu no ônibus da escola. Não deu olá aos seus colegas, não tinha amigos. Os meninos da sua turma costumavam rir da sua cara, diziam que ela era feia. Chegaram no colégio, o sinal tocou e a turma toda foi para a sala. "A professora disse que todos são iguais, vagabunda mentirosa, se é assim porque é que não tenho amigos." Recebeu um bilhete, veio lá do fundão, leu o que havia lá escrito e disfarçou, não queria demonstrar fraqueza. Da última vez ela chorou, foi motivo de risos para a turma inteira, e ainda levou uma bronca da professora. Guardou bem fundo sua tristeza por muito tempo. Agora já não tinha mais tristeza, tinha ódio, tinha raiva de tudo e todos. Em seu último dia de aula chegou sorridente ao colégio, iam fazer amigo-secreto. Armaram a roda e começaram a entregar os presentes, quando chamaram seu nome um menino lhe entregou protetor solar, disse que era para ver se assim ela conseguia ficar um pouco mais branca. O abraço ela não recebeu, ninguém chegava muito perto, era como se ela tivesse alguma doença contagiosa. Foi então que abriu a lancheira e pegou uma faca, esfaqueou sem dó nem remorso o garoto que lhe entregou o protetor. 6 facadas na cabeça, o garoto espirrava sangue, a turma apavorada gritava, alguns corriam, outros não sabiam o que fazer. A professora foi chamar ajuda. A garotinha foi mandada para uma prisão, não era bem aquela que todos conhecem, mas era uma prisão. Há algumas semanas atrás foi encontrada cuspindo sangue em sua prisão. Os policiais viram a garota agonizando, chamaram um médico e foram fazer um lanche. Ao seu lado, no chão, havia um papel com suas últimas palavras. O papel ficou perdido no meio de todo aquele sangue, o corpo foi levado embora.

7 comentários:

Zaratustra disse...

o médico se atrasou, sempre se atrasa. Mas no necrotério entre piadas os legistas, ao virar o gélido corpo negro, tiveram que abraça-la.

Foi o único abraço que ela recebeu.

Sujeito da camisa listrada disse...

Tem gente que tem voz mas ninguém ouve, ainda bem que a gente tem um blog (?)

disse...

que horror.
Ela nao tinha aqueles bixinhos virtuais (tomagochi?), aquilo era meu melhor amigo no meu tempo de "estrangeira que ninguem gostava". haha!

Anônimo disse...

Maravilha de conto.

Curti muito.

Vênus de Willendorf disse...

A famosa "tiração de sarro" , as brincadeiras , as piadas são formas violência psicológica.Na modernidade isso é chamado de Bullying.Gostei do seu texto , já fui vítima desse tipo de violência.Não matei ninguém , mas era minha vontade.

Anônimo disse...

É fase... crianças são assim.

Anônimo disse...

É fase... crianças são assim.