quarta-feira, outubro 11, 2006

Dia de Lua Cheia

Lá do alto vi como eram felizes, vi tudo o que eu perdera por querer ser de ninguém. A lua estava diferente dos outros dias, estava mais perto, estava mais brilhante, estava diferente. Era ela quem me dizia que tudo iria valer a pena. Sentei na grama surrada da beira da estrada e comecei a rir. Não tinha achado graça em nada, apenas senti vontade de rir, e foi o que eu fiz. Talvez o riso fosse um mecanismo de defesa, fosse algo para me dar voz, algo que me dissesse "está tudo bem". O fato é que a minha vontade era de descer lá e voltar atrás. Pedir desculpas e dizer que voltei, que queria fazer parte do grupo mais uma vez, mas o orgulho me impedia. O orgulho que não me deixa voltar é o mesmo orgulho que me fez partir. Começou a chover, bem de leve, aquele tipo de chuva que faz as pessoas refletirem, aquelas chuvas que nos fazem querer mudar. Lá embaixo a chuva molhava a camisa velha e desbotada da mulher que um dia foi minha amada. O peso da água faz com que as roupas fiquem coladas, no caso dela, os seios moldados no tecido me faziam lembrar dos vários momentos de prazer que tivemos juntos. Diferente dos olhos; esses sim me faziam lembrar do amor. Do tempo em que transpirávamos paixão, do tempo de sonhos, dos mil planos, das juras de amor eterno. Acendi um cigarro, duas ou três tragadas e a chuva o estragou. Não podia mais evitar. Desci até as barracas e segurei o seu braço. Ela virou e me encarou por alguns instantes. Não sabia o que dizer, nem eu e nem ela. Não disse nada, apenas olhei fundo em seus olhos, e ela entendeu, também não falou nada. Como se tivéssemos voltado no tempo, estávamos nós de novo aos beijos e abraços, de baixo de chuva, com o mundo ao nosso lado. Fizemos amor a noite toda, dormimos juntos e abraçados. No dia seguinte pela manhã acordei cedo, saí sem fazer barulho, não queria acordá-la, assim poderia ficar alguns minutos alí vendo minha antiga paixão dormir. Voltei para o carro, liguei o rádio. Estava tocando Rolling Stones. Essa música sempre me causava arrepios, mas na ocasião me arrancou lágrimas. Dei a partida, agora não tinha mais volta, a estrada era a minha vida, e ainda restavam muitas delas pela frente. A poeira levantou uma nuvem, dirigi alguns metros sem ver nada, mas não me importava, fui embora com a certeza de que fiz o certo, enquanto a mesma melodia me dizia, you can't always get what you want.

7 comentários:

Vênus de Willendorf disse...

Quem dera eu pudesse ter o que eu queria.Provavelmente não estaria só.Mas é assim...antes sozinha do que mal acompanhada.
Gostei do texto

Anônimo disse...

O orgulho é legal. É o melhor mecanismo de defesa, e com toda a razão!!!

Anônimo disse...

Ela realmente é orgulhosa, mas sabe muito bem a hora de "dar o braço a torcer". Elça ficou com o coração do sujeito, e de muitos outros. Mas ela não era egoísta, sempre que gostava divia o coração em pedaços e ditribuia para quem estivesse disposto a cuidá-lo. E nem sempre as pessoas estavam preparadas para recebe-lo.Por isso a partir de agora, ela disse que quer o que sobrou batendo bem forte no peito.

É o orgulho as vezes é cruel, nos tira algo, que as vezes temos medo de admitir que amamos! Mas é a vida meu querido, a vida é cruel!

Anônimo disse...

Ah sim lembra bastante o texto da Fegava.Aliás ela escreve muito bem, e é a minha inspiração! Mas vou apagar para naum causar encrencas, porque diz respeito ao meu passado!

Sujeito da camisa listrada disse...

Não se pode mesmo

Vênus de Willendorf disse...

verdade sim , "sujeito".
Procura-se trocar de cartas para tentar vencer o jogo , ou pelo menos ficar com as melhores peças possíveis.E alem do mais , todas as cartas tem um outro lado , e ali eu representei somente uma dessas facetas.
A noite pode trminar , mas ela volta.Seja com cartas novas ou velhas,uma coisa lhe garanto:As cartas que me fazem ter momentos de felicidade plena , eu carrego no bolso do meu coração.

disse...

Chuva. Cama molhada. Carro molhado. Poeira.
Tudo acaba em lama!